Reação do Lago Nyos
Imagine um lago de refrigerantes com 200 metros de profundidade só para você! Parece uma ideia fantástica, não é? Agora, imagine a explosão de espuma e gás que um terremoto causaria nesse lago. Por mais maluca que pareça a ideia, foi um acidente parecido com esse que matou mais de 1.700 pessoas, em agosto de 1986, na África.
Essas pessoas foram asfixiadas por uma nuvem de gás que saiu do Lago Nyos, na República dos Camarões. A nuvem que saiu do lago era de gás carbônico, o mesmo gás que borbulha nos refrigerantes e na cerveja. O gás carbônico não é tóxico, mas quando a concentração no ar passa de 10%, nós morremos asfixiados, porque falta oxigênio.
Como o Lago Nyos está na cratera de um vulcão, o gás carbônico que sai da lava vulcânica se dissolve na água do lago. As camadas mais profundas são de águas frias e têm muito gás dissolvido; nas camadas superiores, onde a temperatura é mais alta, têm menos gás dissolvido. Lembre-se que a solubilidade de um gás diminui com o aumento da temperatura.
Dissolvendo gases em líquidos
A solubilidade de um gás na água varia. Alguns dissolvem-se mais que outros. Mas a solubilidade de qualquer gás diminui quando aumenta a temperatura.
E a pressão? Você sabe como a pressão influi na solubilidade de um gás? Tente explicar por que o refrigerante perde o gás se largarmos a garrafa aberta.
O segredo está no chiado que você escuta ao abrir a garrafa. Aquele barulho indica que a pressão do gás dentro da garrafa era alta. Com a alta pressão, o gás ficava dissolvido no líquido. Quando abrimos a garrafa, a pressão diminui e por isso o gás escapa.
Mas vamos voltar ao Lago Nyos. Quando algo perturba o equilíbrio, a água fria que estava embaixo vai para cima. Aí, é como se abrisse uma garrafa de champanhe. BUM! Lembre-se que a água mais fria tinha mais gás dissolvido, porque estava a uma temperatura mais baixa e a pressão era mais alta. (Essa da pressão mais alta é para você pensar. Por quê? Vou dar só uma dica: a água estava lá em baixo).
Depois que o borbulhamento do Lago Nyos terminou, o seu nível estava um metro mais baixo. E as suas águas ficaram tingidas de vermelho, por causa do hidróxido de ferro que estava no fundo do lago. Mas, um mês depois, o lago estava tranquilo de novo e as aldeias vizinhas totalmente desertas.
A concentração do dióxido de carbono no lago continuou subindo, aumentando os riscos de outra erupção, que poderia ser pior, porque a represa estava em processo de erosão e, se arrebentasse, a inundação pode atingir até a Nigéria. Infelizmente, os cientistas não conseguem prever quando a champanhe, quer dizer, o Lago Nyos irá estourar de novo.
Então, foi criado um método para retirar uma parte do gás que se acumula no fundo. Uma bomba de água simula uma erupção no fundo do lago e parte do gás acumulado sobe por um tubo. Assim, previne-se outra erupção repentina.
Aposto que agora você não está mais achando um lago de refrigerante particular tão fantástico, não é? E agora, que tal procurar a República de Camarões e a Nigéria num mapa?
Jorge Andrey W. Gut, Eng. Química da USP